MLS - Communication Journalhttps://www.mlsjournals.com/ISSN: 2792-9280 |
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MLS - Communication Journal , 5(2), 59-72. Doi: 10.29314/mlser.v5i2.531.
A URGÊNCIA DA EDUCAÇÃO MIDIÁTICA NA ERA DA DESINFORMAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO NA PERIFERIA PAULISTANA
Clayton Ferreira dos Santos Scarcella
Universidad Europea del Atlántico (Brasil)
clayton.fs7@gmail.com · https://orcid.org/0009-0007-2653-9329
Resumo: Este estudo investiga a urgência da integração da educação midiática na capacitação profissional de jovens e adultos em contextos periféricos, utilizando o Centro Municipal de Capacitação e Treinamento (CMCT) do Itaim Paulista como estudo de caso, onde buscou não apenas identificar as lacunas de conhecimento e habilidades em relação à mídia e informação, mas também propor estratégias para o desenvolvimento de um curso de qualificação em educação midiática adaptado às necessidades locais. A pesquisa emprega uma metodologia qualitativa, incluindo grupos focais com 21 participantes, observação participante e análise documental. Os resultados revelam lacunas na alfabetização midiática, com dependência excessiva da autoridade da fonte para avaliar a credibilidade das informações. Contudo, há um alto interesse (91% dos participantes) em educação midiática, onde na discussão enfatizamos a urgência da educação midiática. O estudo conclui propondo a implementação de um curso de qualificação em educação midiática adaptado às necessidades locais, visando promover cidadania digital ativa e combater a desinformação. Recomenda-se a implantação de um curso de qualificação profissional em educação midiática, que não apenas ensine práticas de produção de mídia, mas também técnicas de fact-checking e a construção de uma dieta midiática melhor balanceada, bem como a formação de educadores e parcerias institucionais para enfrentar os desafios identificados e capitalizar o interesse demonstrado pelos participantes.
keywords: educação midiática, qualificação profissional, desinformação, CMCT, Itaim Paulista
THE URGENCY OF MEDIA EDUCATION IN THE AGE OF DISINFORMATION: A CASE STUDY IN THE PERIPHERY OF SÃO PAULO
Abstract: This study investigates the urgency of integrating media education in the professional training of young people and adults in peripheral contexts, using the Municipal Center for Training and Training (CMCT) of Itaim Paulista as a case study, where it sought not only to identify the gaps in knowledge and skills in relation to media and information, but also to propose strategies for the development of a qualification course in media education adapted to local needs. The research employs a qualitative methodology, including focus groups with 21 participants, participant observation and document analysis. The results reveal gaps in media literacy, with excessive reliance on the authority of the source to assess the credibility of information. However, there is a high interest (91% of participants) in media education, where in the discussion we emphasize the urgency of media education. The study concludes by proposing the implementation of a qualification course in media education adapted to local needs, aiming to promote active digital citizenship and combat disinformation. It is recommended the implementation of a professional qualification course in media education, which not only teaches media production practices, but also fact-checking techniques and the construction of a better balanced media diet, as well as the training of educators and institutional partnerships to face the challenges identified and capitalize on the interest shown by the participants.
keywords: media education, professional qualification, disinformation, CMCT, Itaim Paulista
LA URGENCIA DE LA EDUCACIÓN MEDIÁTICA EN LA ERA DE LA DESINFORMACIÓN: UN ESTUDIO DE CASO EN LA PERIFERIA DE SÃO PAULO
Resumen: Este estudio investiga la urgencia de integrar la educación mediática en la formación profesional de jóvenes y adultos en contextos periféricos, utilizando como caso de estudio el Centro Municipal de Capacitación y Capacitación (CMCT) de Itaim Paulista, donde se buscó no solo identificar las brechas de conocimientos y habilidades en relación con los medios y la información, sino también proponer estrategias para el desarrollo de un curso de calificación en educación mediática adaptado a las necesidades locales. La investigación emplea una metodología cualitativa, que incluye grupos focales con 21 participantes, observación participante y análisis de documentos. Los resultados revelan brechas en la alfabetización mediática, con una dependencia excesiva de la autoridad de la fuente para evaluar la credibilidad de la información. Sin embargo, existe un alto interés (91% de los participantes) en la educación mediática, donde en la discusión se enfatiza la urgencia de la educación mediática. El estudio concluye proponiendo la implementación de un curso de cualificación en educación mediática adaptado a las necesidades locales, con el objetivo de promover la ciudadanía digital activa y combatir la desinformación. Se recomienda la implementación de un curso de cualificación profesional en educación mediática, que no solo enseñe prácticas de producción mediática, sino también técnicas de fact-checking y la construcción de una dieta mediática más equilibrada, así como la formación de educadores y alianzas institucionales para enfrentar los desafíos identificados y capitalizar el interés mostrado por los participantes.
Palabras clave: educación mediática, cualificación profesional, desinformación, CMCT, Itaim Paulista
Introdução
Na era digital contemporânea, a proliferação da desinformação apresenta desafios para toda a sociedade, ameaçando os fundamentos da democracia e da coesão social. Este fenômeno é particularmente preocupante em contextos de vulnerabilidade socioeconômica, onde o acesso à educação de qualidade e a recursos informacionais confiáveis pode ser limitado. O distrito do Itaim Paulista, localizado na periferia da zona leste da cidade de São Paulo, exemplifica uma área onde a necessidade de educação midiática se torna cada vez mais premente.
David Buckingham, um dos principais teóricos na área, afirma que "a educação midiática não deve ser vista apenas como uma proteção contra os efeitos negativos da mídia, mas como uma oportunidade para capacitar os indivíduos a participarem ativamente da cultura midiática" (Buckingham, 2003). Ele ressalta a necessidade de integrar a educação midiática ao currículo escolar para desenvolver habilidades de análise crítica, criação e participação.
Ismar de Oliveira Soares, pioneiro da educomunicação no Brasil, complementa essa visão ao enfatizar a importância de estratégias que integrem comunicação e educação. Segundo Soares, a educomunicação "promove um ambiente de aprendizagem onde os alunos se tornam produtores de conteúdo, não apenas consumidores passivos", reforçando a educação midiática como ferramenta de empoderamento social (Soares, 2014).
A UNESCO, por sua vez, tem promovido a alfabetização midiática e informacional (AMI) como um direito humano essencial no século XXI. A organização define a AMI como "um conjunto de competências necessárias para acessar, analisar, avaliar e criar conteúdo em diferentes contextos e plataformas" (UNESCO, 2013). A UNESCO defende a emergência da AMI para o desenvolvimento de sociedades informadas e democráticas, capacitando os cidadãos a tomar decisões informadas e participar plenamente da vida pública.
O potencial da educação midiática está na sua capacidade de transformar a relação dos indivíduos com a mídia e a informação. Ao desenvolver habilidades críticas, os indivíduos tornam-se mais aptos a identificar desinformação e compreender contextos midiáticos complexos. Além disso, a educação midiática promove a inclusão digital, garantindo que todos, independentemente de sua origem socioeconômica, tenham a oportunidade de se engajar com as tecnologias digitais de maneira significativa.
A educação midiática, definida como a capacidade de acessar, analisar, avaliar e criar conteúdo em várias formas de mídia (Buckingham, 2019), torna-se essencial neste contexto para combater a desinformação e promover a cidadania digital ativa, considerando que a escola, como um dos principais espaços para letramentos, não pode permitir que os seus estudantes passem por ela sem refletir sobre os textos midiáticos Nicacio (2019).
A pandemia de COVID-19 intensificou a urgência dessa integração, expondo as fragilidades nos sistemas de informação e comunicação, e destacando a vulnerabilidade das populações marginalizadas à desinformação, ao que Santana (2021) enfatiza a necessidade do letramento midiático especialmente para usuários de smartphones, que se tornaram a principal fonte de informação para muitos indivíduos.
A educação midiática tem ganhado crescente relevância no cenário educacional contemporâneo, especialmente diante dos desafios impostos pela era da desinformação. Buckingham (2019) argumenta que a educação midiática vai além da simples proteção contra os efeitos negativos da mídia, onde é incisivo quanto à importância de desenvolver uma compreensão crítica e uma participação ativa na cultura digital onde a educação midiática tem o potencial de fortalecimento da democracia. Conforme destacado pela Estratégia Brasileira de Educação Midiática (EBEM), as atividades, ações, propostas e projetos que envolvam esta educação com as mídias devem ter por natureza o objetivo de “sustentação da democracia, uma vez que pessoas midiaticamente educadas compreendem a importância da pluralidade de vozes em circulação e entendem sua responsabilidade ao interagir com informações, seja como consumidores ou produtores." (Secretaria de Comunicação Social, 2023, p. 10).
No contexto da educação de jovens e adultos (EJA), a integração da educação midiática apresenta desafios e oportunidades únicas. Ribeiro, Baptista e Ribeiro (2021) argumentam que a orientação pedagógica desempenha um importante papel na promoção da melhoria das condições humanas e da vida em sociedade, orientando as práticas de maneira comprometida, pessoal e social. Esta perspectiva é particularmente relevante para a EJA, onde os alunos trazem experiências de vida diversas e enfrentam desafios específicos no acesso e interpretação da informação. A ausência de profissionais especializados em orientação pedagógica, como observado no Centro Municipal de Capacitação e Treinamento (CMCT) Itaim Paulista, pode impactar negativamente tanto as práticas pedagógicas quanto a formação de professores (Libâneo, 2021), e esta lacuna é especialmente preocupante quando se trata da implementação de programas de educação midiática, que requerem um olhar pedagógico especializado e atualizado.
Manuel Castells (2003) destaca os desafios da sociedade em rede, enfatizando como as tecnologias de informação e comunicação transformaram fundamentalmente as estruturas sociais e econômicas. Neste contexto, a educação midiática torna-se não apenas uma ferramenta educacional, mas uma necessidade social para a participação plena na sociedade contemporânea. A integração da educação midiática na capacitação profissional de jovens e adultos em contextos periféricos apresenta desafios que destacam a urgência de uma educação para e com as mídias (Soares, 2014) como uma resposta aos desafios da era da desinformação, especialmente em contextos de vulnerabilidade socioeconômica.
Na literatura pesquisada identificamos uma lacuna preocupante na alfabetização midiática entre os estudantes da EJA, particularmente vulneráveis à desinformação e manipulação, cujo fenômeno é agravado pelo que Pariser (2011) denomina por "filtro bolha", onde algoritmos de plataformas digitais criam ambientes informacionais personalizados, potencialmente limitando a exposição a perspectivas diversas e reforçando crenças preexistentes.
A proliferação de fake news e a chamada "infodemia", conceito explorado inicialmente pela OMS e depois por autores como Silva (2022) e Ruschel e Boufleuer (2023), representam desafios significativos para a democracia e a coesão social. Neste contexto, a educação midiática não se limita apenas à identificação de informações falsas, mas engloba uma compreensão mais ampla dos mecanismos de produção e disseminação de informações, incluindo o papel dos algoritmos e das estruturas de poder na mídia.
Sene (2021) enfatiza a necessidade de adaptar as abordagens de educação midiática à realidade brasileira, considerando as especificidades culturais, sociais e tecnológicas do país. Isso inclui abordar questões como o acesso desigual à tecnologia e a diversidade de contextos culturais presentes na EJA. Nossa pesquisa bibliográfica também revelou a importância de desenvolver habilidades de avaliação crítica da informação, onde a educação midiática na EJA não se trata apenas de fornecer ferramentas para navegar no ambiente informacional digital, mas de empoderar os indivíduos para participarem ativamente na construção de uma sociedade mais informada e democrática. Este estudo ressalta a urgência de implementar programas abrangentes de educação midiática, adaptados às necessidades específicas dos estudantes da EJA, como um passo crucial para fortalecer a cidadania e a resiliência democrática no Brasil contemporâneo.
Método
Este estudo, de caráter qualitativo, é focado em um estudo de caso no Centro Municipal de Capacitação e Treinamento (CMCT) Professor Lenine Soares de Jesus, localizado no bairro do Itaim Paulista, periferia da zona leste da cidade de São Paulo. A escolha desta metodologia alinha-se com a perspectiva de Lösch, et al. (2023), que argumentam que a pesquisa qualitativa em educação, especialmente em contextos específicos, pode proporcionar experiências, insights e até mesmo a formulação de políticas e práticas educacionais mais assertivas.
Local de Estudo
O Centro Municipal de Capacitação e Treinamento (CMCT) Itaim Paulista desempenha um papel crucial na comunidade ao oferecer oportunidades de desenvolvimento profissional em uma região marcada por desafios socioeconômicos. Localizado na zona leste de São Paulo, o CMCT atende uma população diversa, que busca melhorar suas habilidades e aumentar suas chances de inserção no mercado de trabalho.
Além dos cursos oferecidos, o CMCT Itaim Paulista se destaca por sua abordagem inclusiva, permitindo que pessoas de diferentes idades e origens acessem a educação e a capacitação. Essa abertura contribui para a integração social e o empoderamento dos indivíduos, promovendo a igualdade de oportunidades. A infraestrutura do CMCT é modesta, mas funcional, com 8 salas de aula equipadas para atender às necessidades dos cursos práticos, além de um auditório e espaço livre interno. No entanto, a falta de um orientador pedagógico especializado representa um desafio significativo. Esse profissional poderia auxiliar na adaptação dos currículos às demandas atuais do mercado e na implementação de metodologias de ensino mais eficazes, que atendam às necessidades específicas dos alunos.
Apesar dessas limitações, o CMCT Itaim Paulista mantém um ambiente acolhedor e de apoio, onde os alunos são incentivados a perseguir seus objetivos educacionais e profissionais. A dedicação da equipe administrativa e dos agentes escolares é evidente no esforço contínuo para melhorar a qualidade do ensino e expandir as ofertas de cursos, buscando parcerias com empresas locais e organizações não governamentais para enriquecer ainda mais o aprendizado dos alunos.
Oferece, ao total, sete opções de cursos livres, abertos à comunidade a partir dos 14 anos e sem limite de idade: Auxiliar administrativo, Auxiliar de logística, Confeitaria, Corte e Costura, Elétrica Residencial e Predial, Informática e Panificação. A escola possui uma estrutura administrativa enxuta, composta por um gestor escolar, um secretário e cinco agentes escolares.
Os alunos chegam ao CMCT a partir de um processo de inscrição voluntária e posterior sorteio às vagas. São aproximadamente 20 vagas por curso, em um total de 25 turmas. Os interessados fazem parte do bairro do Itaim Paulista e distritos próximos, além de cidades vizinhas como Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Guarulhos e Poá.
Participantes
Os participantes deste estudo refletem a diversidade e a riqueza cultural da comunidade local. Com idades variando de 16 a 55 anos, eles trazem uma ampla gama de experiências de vida que enriquecem o ambiente de aprendizado. Muitos dos alunos buscam a capacitação profissional como uma forma de reingresso no mercado de trabalho ou de mudança de carreira, enquanto outros almejam aprimorar suas habilidades para avançar em suas ocupações atuais.
A experiência educacional prévia dos participantes varia consideravelmente. Alguns possuem apenas o ensino fundamental, enquanto outros já concluíram o ensino médio e até mesmo cursos técnicos. Essa variedade de formações acadêmicas contribui para um ambiente de aprendizado dinâmico, onde os alunos podem compartilhar diferentes perspectivas e conhecimentos.
Em termos de familiaridade com tecnologias digitais, há também uma diversidade significativa. Alguns participantes demonstram proficiência no uso de ferramentas digitais, frequentemente utilizando smartphones e computadores para fins pessoais e profissionais. Outros, no entanto, estão apenas começando a explorar o mundo digital, o que destaca a importância dos cursos de informática oferecidos pelo CMCT.
Os grupos focais realizados com os estudantes foram estrategicamente divididos para capturar as experiências e opiniões de alunos de diferentes turnos. O grupo focal da manhã e tarde incluiu participantes que geralmente têm disponibilidade diurna, muitas vezes equilibrando seus estudos com responsabilidades familiares ou outros compromissos. Já o grupo da tarde e noite contou com alunos que, em sua maioria, trabalham durante o dia e buscam a capacitação profissional como uma oportunidade de crescimento após o expediente.
O grupo focal envolveu 21 jovens e adultos matriculados em cursos de capacitação profissional no CMCT Itaim Paulista, grupos que representaram uma amostra diversificada em termos de idade, experiência educacional prévia, familiaridade com tecnologias digitais e turno que estudam. A escola conta com 3 turnos de funcionamento (manhã, tarde e noite). Um grupo focal com 11 estudantes aconteceu entre manhã e tarde e outro com 10 participantes entre a tarde e a noite. Os estudantes foram convidados a participar do estudo a partir de um convite, feito de sala e em sala e em uma atividade denominada “Experiências CMCT”, onde os estudantes puderam conhecer e experienciar um pouquinho do que cada curso oferece.
Nestes momentos, apresentamos os objetivos da pesquisa e explicamos o método de coleta de dados, sempre deixando clara a relação da ética em pesquisa e a autorização a partir do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido, aos estudantes menores de 18 anos.
Coleta de Dados
A coleta de dados foi realizada através de três métodos principais:
Análise de Dados
Os dados coletados foram analisados utilizando uma abordagem de análise de conteúdo qualitativa. As respostas dos participantes foram categorizadas e codificadas utilizando o método da análise de conteúdo de Laurence Bardin, com auxílio do software Atlas.Ti® para identificar temas e padrões recorrentes. Esta técnica permitiu com que compreendêssemos as percepções, habilidades e necessidades dos participantes em relação à educação midiática.
A análise de dados no contexto deste estudo foi fundamentada na técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), que envolve um processo de codificação que transforma dados brutos em unidades significativas de informação. Este processo se iniciou com a pré-análise, uma fase preparatória onde os dados foram organizados e as hipóteses formuladas. Durante essa etapa, segundo a autora, o pesquisador se familiariza com o material coletado, definindo os documentos a serem analisados e formulando os objetivos da análise (Bardin, 2011).
Na sequência, fizemos a exploração do material, que é a fase mais extensa e laboriosa. Nesta etapa, os dados são sistematicamente codificados, ou seja, são divididos em unidades de significado que são posteriormente classificadas em categorias. Bardin (2011) enfatiza que essas categorias devem ser mutuamente exclusivas e exaustivas, assegurando que todas as informações relevantes sejam capturadas e classificadas adequadamente.
A terceira fase é a de tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Aqui, os dados categorizados são analisados para identificar padrões e relações significativas. Bardin (2011) sugere que essa etapa é uma das mais importantes para a validação das hipóteses iniciais e para a construção de novas interpretações teóricas. Esta análise de conteúdo permite, assim, que o pesquisador extrapole os dados para além do que é imediatamente observável, perceptível e experienciado em relação aos comportamentos dos participantes.
No contexto do estudo realizado no CMCT Itaim Paulista, a análise de conteúdo foi aplicada aos dados coletados nos grupos focais e nas observações participantes. As categorias emergentes incluíram temas como a importância da educação midiática, as barreiras enfrentadas pelos alunos e as expectativas em relação aos cursos oferecidos. Através da análise de conteúdo, foi possível identificar que muitos participantes valorizavam a educação midiática como um meio de melhorar suas oportunidades de emprego e participação social e perceberam através das trocas de experiências no grupo focal a importância de integrar essa educação em seus currículos e capacitação profissional.
Considerações Éticas
Todos os participantes foram informados sobre os objetivos do estudo e consentiram voluntariamente em participar. Foi garantido o anonimato e a confidencialidade das informações fornecidas. O estudo foi conduzido em conformidade com as diretrizes éticas para pesquisa em educação, submetido à Plataforma Brasil e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa sob o número CAEE 80140024.6.0000.0081 e número de parecer 6.866.011.
Limitações do Estudo
É importante reconhecer que, como um estudo de caso único, os resultados podem não ser generalizáveis para todos os contextos de educação de jovens e adultos. No entanto, a pesquisa qualitativa em educação permite ao pesquisador analisar com maior profundidade as questões educacionais, transcendendo os números para compreender o significado e a essência das experiências educativas.
Resultados
Os resultados da pesquisa revelaram dados interessantes sobre a relação dos estudantes com a educação midiática e o ambiente informacional digital. Em primeiro lugar, notamos o alto interesse em educação midiática, com 91% dos participantes expressando vontade de participar de um curso nessa área. Isso dialoga diretamente com o que Baiense e Borges (2019) argumentam sobre a educação midiática como um direito fundamental para a participação cidadã. Esse interesse reflete uma consciência crescente da importância dessas habilidades, entre este público, que percebemos não anseia apenas consumir, mas também produzir na era digital.
As 5 categorias de análise que emergiram da pesquisa estão em relação direta ao que também encontramos em dissertações e teses, da área de educação midiática realizados em contexto brasileiro, nos últimos 5 anos e nos dão uma visão das práticas e percepções dos estudantes. Na primeira delas, “uso de dispositivos e plataformas de mídia” observou-se uma diversidade de fontes, incluindo redes sociais, motores de busca e mídia tradicional. Na segunda, “critérios de credibilidade da informação”, os participantes demonstraram uma forte confiança na autoridade da fonte e na corroboração por múltiplas fontes. Na terceira, “práticas de verificação”, curiosamente, redes sociais foram citadas como ferramentas de verificação, o que levanta questões sobre a compreensão do papel dessas plataformas na disseminação de desinformação. Na quarta, “democracia e participação cidadã”, a pesquisa revelou uma conexão entre educação midiática e participação democrática, alinhando-se com as discussões da UNESCO (2016) sobre a importância da alfabetização midiática para a cidadania. E na quinta, “demandas por educação midiática”, o interesse em cursos relacionados à criação midiática (6.9% das inscrições) indica uma demanda por habilidades práticas nessa área.
Um achado particularmente interessante foram relatos quanto ao uso do YouTube para verificação de fatos históricos, o que destaca o uso das plataformas de mídia social na formação do conhecimento histórico e factual. Esse comportamento sugere que as plataformas de mídia social não são apenas fontes de entretenimento, mas também desempenham um papel educativo dos usuários, uma mudança na forma como as pessoas acessam e validam informações.
Tradicionalmente, a verificação de fatos históricos era realizada através de fontes acadêmicas ou livros didáticos. No entanto, a acessibilidade e a variedade de conteúdos disponíveis no YouTube oferecem aos usuários uma alternativa prática e visual para explorar múltiplas perspectivas sobre estes acontecimentos. Este fenômeno também levanta questões sobre a curadoria e a qualidade das informações disponíveis nessas plataformas, e, embora o YouTube ofereça uma vasta gama de conteúdos, a precisão e a confiabilidade desses materiais podem variar significativamente. Isso destaca a importância de desenvolver habilidades de pensamento crítico nos usuários, para que possam avaliar a credibilidade dos vídeos e distinguir entre informações factuais e ilusórias. Além disso, o uso do YouTube para fins educacionais e de verificação de fatos pode influenciar a forma como o conhecimento histórico é construído e disseminado. Os criadores de conteúdo (denominado youtuber’) têm o poder de moldar narrativas históricas, muitas vezes apresentando informações de maneira acessível e envolvente, mas que pode carecer de rigor acadêmico. Portanto, esse achado sublinha a necessidade de integrar a educação midiática nos currículos escolares, capacitando os estudantes a utilizarem essas plataformas além do mero consumo com total creditação. Isso inclui ensinar como verificar a autenticidade das fontes, entender o contexto histórico e reconhecer vieses potenciais nos conteúdos consumidos.
A observação participante revelou comportamentos práticos no uso de mídia que nem sempre eram verbalizados nas entrevistas, enfatizando a importância de métodos de pesquisa que vão além do autorrelato. Durante as sessões de observação, notou-se que muitos participantes demonstravam habilidades intuitivas no uso de plataformas digitais que não foram mencionadas durante os grupos focais. Por exemplo, vários estudantes navegavam com destreza entre diferentes aplicativos de redes sociais, alternando rapidamente entre conteúdos de entretenimento e informação, uma prática que não foi articulada verbalmente quando questionados sobre seus hábitos de consumo de mídia. Além disso, a observação participante revelou discrepâncias entre as percepções declaradas e os comportamentos reais dos participantes em relação à verificação de informações. Enquanto nos grupos focais muitos afirmaram checar múltiplas fontes antes de compartilhar conteúdo, na prática observou-se uma tendência a compartilhar informações rapidamente, muitas vezes baseando-se apenas na confiança na fonte original ou na reação emocional ao conteúdo. A disparidade entre o comportamento observado e o relatado também ressoa com os achados de Silva (2022) em seu estudo sobre o uso de mídia por adolescentes, onde as práticas digitais muitas vezes divergiam das narrativas apresentadas pelos participantes.
Verificamos, por fim, que os resultados apontam para uma necessidade urgente de programas de educação midiática que abordem não apenas o consumo crítico de informações, mas também a produção ética e responsável de conteúdo.
Percepções sobre Mídia e Informação
Os participantes demonstraram uma consciência geral da importância da mídia em suas vidas cotidianas, mas também expressaram preocupações substanciais sobre os riscos associados à falta de compreensão dos meios de comunicação. Um participante, identificado como "C G1", expressou: "Considero que corremos riscos extremos, pois a falta de conhecimento é uma ignorância atroz. Conhecer, entender, e saber como funcionam os meios de comunicação e a mídia é fundamental para a preservação da coletividade, da democracia e da segurança em ambientes mediados por mídias", uma percepção que reflete a compreensão da relação entre educação midiática e participação democrática, alinhando-se com a visão de Buckingham (2019) sobre o papel da educação midiática na promoção da cidadania ativa.
Habilidades e Lacunas em Educação Midiática
A análise das respostas revelou lacunas na alfabetização midiática entre os participantes. Muitos relataram nunca terem participado de cursos formais sobre o tema, indicando uma necessidade urgente de desenvolver habilidades críticas para avaliar a veracidade das informações. Quando questionados sobre os critérios utilizados para julgar a credibilidade de uma notícia ou informação, os participantes demonstraram uma dependência significativa da autoridade da fonte, como ilustrado na tabela 1:
Tabela 1
Critérios utilizados para julgar a credibilidade da fonte
Resposta |
Participantes |
% |
Autoridade da fonte (reputação do autor ou veículo) |
16 |
31,37 |
Precisão dos detalhes fornecidos |
9 |
17,65 |
Presença de evidências verificáveis |
9 |
17,65 |
Estilo e qualidade do texto (erros gramaticais, exageros etc.) |
9 |
17,65 |
Outro |
0 |
0 |
Total |
43 |
|
Nota. Respostas dos participantes, onde poderiam anotar mais de uma opção de resposta.
Esta distribuição sugere que, embora os participantes utilizem uma variedade de critérios, há uma forte ênfase na reputação da fonte, o que pode limitar sua capacidade de avaliar criticamente informações de fontes menos conhecidas ou alternativas.
Interesse em Educação Midiática
Um resultado particularmente encorajador foi o alto nível de interesse demonstrado pelos participantes em um curso de educação midiática, onde 48% dos participantes expressaram interesse definitivo, 43% indicaram que talvez estariam interessados e apenas 9% não demonstraram interesse. Este resultado sugere um terreno fértil para a implementação de programas de educação midiática no CMCT Itaim Paulista, alinhando-se com a visão de Santana (2021) sobre a necessidade de letramento midiático na educação de jovens e adultos.
Desafios Estruturais e Pedagógicos
A análise documental e a observação participante revelaram desafios estruturais em relação à concepção deste modelo de unidade escolar, que opera com uma equipe administrativa enxuta, composta por um gestor escolar, um secretário e cinco agentes escolares onde notavelmente, há uma ausência de um profissional dedicado à orientação pedagógica, o que, segundo Ribeiro, Baptista e Ribeiro (2021), pode impactar negativamente tanto as práticas pedagógicas quanto a formação de professores.
Esta lacuna estrutural apresenta um desafio adicional para a implementação efetiva de programas de educação midiática, ressaltando a necessidade de um olhar que considere não apenas o conteúdo curricular, mas também o desenvolvimento profissional dos educadores e a estrutura administrativa da instituição.
Discussão e conclusões
Percepções e Consciência Midiática
Os resultados obtidos neste estudo de caso no CMCT Itaim Paulista revelam uma complexa interação entre as percepções dos participantes sobre mídia e informação, suas habilidades atuais e as lacunas identificadas em relação à educação midiática. Estes achados oferecem-nos ideações para o desenvolvimento de programas de educação midiática em contextos de vulnerabilidade socioeconômica.
A consciência demonstrada pelos participantes sobre a importância da mídia em suas vidas cotidianas, bem como suas preocupações sobre os riscos associados à falta de compreensão dos meios de comunicação, alinha-se com a visão de Buckingham (2019) sobre o papel da educação midiática na promoção da cidadania ativa. A declaração de um participante, denominado como "C G1", sobre os "riscos extremos" associados à falta de conhecimento sobre os meios de comunicação ressoa com a perspectiva de Castells (2003) sobre os desafios da sociedade em rede.
Esta consciência crítica é um ponto de partida promissor para o desenvolvimento de programas de educação midiática. No entanto, como argumenta Santana (2021), é necessário ir além da mera conscientização, desenvolvendo habilidades práticas de análise e produção de mídia.
Habilidades e Lacunas em Educação Midiática
A dependência significativa da autoridade da fonte como critério principal para julgar a credibilidade das informações, conforme evidenciado na Tabela 1, sugere uma abordagem limitada à avaliação crítica da mídia. Esta confiança excessiva em fontes "autorizadas" pode deixar os indivíduos vulneráveis à desinformação proveniente de fontes aparentemente confiáveis.
Nicacio (2019) enfatiza a importância de desenvolver habilidades de análise crítica que vão além da simples verificação da fonte. Um programa eficaz de educação midiática deve, portanto, focar no desenvolvimento de um conjunto diversificado de habilidades de avaliação, incluindo a verificação cruzada de informações, a análise de evidências e a compreensão dos mecanismos de produção e distribuição de mídia.
Interesse e Potencial para Educação Midiática
O alto nível de interesse demonstrado pelos participantes em um curso de educação midiática (91% expressando interesse definitivo ou potencial) sugere um terreno fértil para a implementação de tais programas. Este interesse alinha-se com a visão de Freire (1967), que enfatiza a importância da educação como um ato de liberdade e autodescoberta.
A diversidade etária, de gênero e socioeconômica do público atendido pelo CMCT Itaim Paulista apresenta tanto desafios quanto oportunidades, visto que esta diversidade requer uma abordagem pedagógica que considere as experiências e contextos variados dos alunos e possibilita troca de experiências, vivências e perspectivas de vida singulares a cada faixa etária.
A urgência de educar midiaticamente os estudantes e profissionais é reforçada por casos reais e reportagens que destacam os perigos da desinformação. Por exemplo, durante o surgimento de casos da Monkeypox, popular varíola dos macacos, a disseminação de informações errôneas sobre saúde pública demonstrou como a falta de alfabetização midiática pode ter consequências sérias, onde a Organização Mundial de Saúde emitiu alertas1 indicando que a desinformação impactou negativamente as medidas de segurança, evidenciando a necessidade de habilidades críticas na avaliação de informações online.
No contexto do CMCT Itaim Paulista, um curso de qualificação que inclua educação midiática pode capacitar os alunos a se tornarem não apenas consumidores críticos de informações, mas também produtores responsáveis de conteúdo. Em áreas de vulnerabilidade socioeconômica, como o extremo leste da cidade de São Paulo onde o acesso a informações precisas e a capacidade de discernir fatos de ficção são deficitários, pode gerar o empoderamento comunitário e a criação de canais e veículos de cidadania ativa de promoção da democracia.
A implementação de um curso focado na criação de conteúdo midiático pode também fomentar a criatividade e a expressão pessoal dos estudantes, permitindo que eles contem suas próprias histórias e abordem questões locais através de uma lente crítica. Isso não apenas enriquece o ciberespaço com perspectivas diversas, mas também fortalece a coesão social ao promover a compreensão mútua e o diálogo.
Além disso, reportagens sobre iniciativas semelhantes em outras regiões mostram que a educação midiática pode aumentar significativamente as oportunidades de emprego. Profissionais que dominam habilidades de comunicação digital são mais valorizados no mercado de trabalho atual, que demanda competências em marketing digital, gestão de redes sociais e produção de conteúdo audiovisual.
Portanto, o interesse e potencial de um curso de qualificação profissional no CMCT são claros. Ao integrar a educação midiática, o curso pode atender às necessidades imediatas dos alunos, preparando-os para os desafios do mercado de trabalho e capacitando-os a contribuir para um ciberespaço mais democrático, o que não apenas beneficia os indivíduos, mas também fortalece a comunidade como um todo, promovendo uma sociedade resiliente às crescentes ondas de manipulação midiática e informacional.
Implicações para a Prática
Com base nestes resultados e discussões, propomos as seguintes recomendações para o desenvolvimento de programas de educação midiática no CMCT Itaim Paulista e em contextos similares:
Implicações para Políticas Públicas e Práticas Educacionais
Com base nos resultados deste estudo, propomos as seguintes recomendações para políticas públicas e práticas educacionais:
Direções para Pesquisas Futuras
Este estudo abre caminho para várias linhas de investigação futura:
Finalizamos ressaltando a urgência da educação midiática para promover a cidadania ativa e a inclusão social em contextos de vulnerabilidade socioeconômica. Ao abordar os desafios identificados e capitalizar o interesse demonstrado pelos participantes, é possível desenvolver intervenções educacionais que não apenas melhorem as habilidades de alfabetização midiática, mas também promovam a participação ativa na sociedade digital contemporânea. Como educadores e pesquisadores, temos a responsabilidade de continuar explorando e implementando abordagens inovadoras que capacitem todos os membros da sociedade a navegar criticamente no complexo ambiente midiático do século XXI.
1Onda de desinformação em relação à Mpox faz OMS emitir alerta . Disponível em https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/08/24/oms-faz-alerta-sobre-enxurrada-de-informacoes-falsas-sobre-mpox.ghtml
Referências
Baiense, C., e Borges, G. (2019). Mídia, Educação e Democracia: diálogos e desafios em tempos de crise. Mídia e Cotidiano, 13(3), 1-5. https://doi.org/10.22409/rmc.v13i3.38853
Buckingham, D. (2019). The media education manifesto. John Wiley & Sons.
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