MLS – EDUCATIONAL RESEARCH

www.mlsjournals.com/ Educational-Research-Journal

ISSN: 2603-5820

Como citar este artículo:

Ferreira da Silva, A. A. and Santos Campos, M. A. (2021). Análise das percepções dos alunos de 2º ano do ensino fundamental sobre o bullying escolar. MLS Educational Research, 5(1), 133-149. doi: 10.29314/mlser.v5i1.452.

ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DOS ALUNOS DE 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE O BULLYING ESCOLAR

Aparecida Abreu Ferreira da Silva
Fundação Pública Municipal de Educação de Niteroi (Brasil)
cida.abreu@gmail.com

Maria Aparecida Santos Campos
Universidad Internacional Iberoamericana (Brasil)
mariaaparecidasantosecampos@gmail.com - https://orcid.org/0000-0001-7190-5438

Data de recepção: 15/04/2020 / Data de revisão: 13/07/2020 / Data de aceitação: 20/08/2020

Resumo. Estudo transversal sobre bullying escolar. Objetivo: Identificar e conhecer as percepções das crianças do 2º ano do 1º ciclo do ensino fundamental de uma escola pública no município de Niterói, sobre o bullying escolar. Instrumentos de pesquisa: Entrevistas a alunos. Metodologia: método quali quantitativo e descritivo com análise de conteúdo e técnica de grupo focal. Amostra: aproximadamente 30 alunos do 1 º ciclo do Ensino Fundamental. Os dados coletados em questionários foram tratados estatisticamente e as entrevistas com alunos, gravadas, ouvidas e transcritas sendo abordada a análise de conteúdo, aos registros verbais dos alunos. Resultados: Este estudo possibilitou observar que os alunos trouxeram muitas informações a respeito do bullying e violência, com clareza e objetividade o que facilitou inclusive a abordagem da análise de conteúdo no tratamento das informações. Ao realizar do um estudo voltado a cultura da infância, com base nas informações trazidas pelos alunos, como um instrumento de análise metodológica, é possível a obtenção de caminhos seguros e práticos, para a compreensão deste universo infantil. Afinal eles sabem, compreendem e nos ajudam a entender como funcionam seus pensamentos e ideias sobre muitos assuntos. A compreensão do bullying como uma intimidação sistemática, pode esclarecer por muitas vezes aquele comportamento de suposta implicância de crianças nesta faixa etária e que alguns profissionais e familiares compreendem ser comum. Nestes casos seria pertinente uma ação formativa aos docentes e equipe administrativa a fim de validar o que as crianças estão trazendo para os adultos em relação às suas queixas quanto ao comportamento alheio.

Palavras chave: Bullying, percepções, crianças, ensino fundamental, experiências.


ANALYSIS OF THE PERCEPTIONS OF 2ND YEAR STUDENTS OF FUNDAMENTAL EDUCATION ABOUT SCHOOL BULLYING

Abstract. Cross-sectional study on school bullying. Objective: To identify and get to know the perceptions of children from the 2nd year of the 1st cycle of elementary school in a public school in the city of Niterói, about school bullying. Research tools: Interviews with students. Methodology: qualitative quantitative and descriptive method with content analysis and focus group technique. Sample: approximately 30 students from the 1st cycle of Elementary School. The data collected in questionnaires were treated statistically and the interviews with students were recorded, heard and transcribed and content analysis was addressed to the students' verbal records. Results: This study made it possible to observe that students brought a lot of information about bullying and violence, with clarity and objectivity, which also facilitated the approach to content analysis in the treatment of information. When conducting a study focused on childhood culture, based on the information brought by the students, as an instrument of methodological analysis, it is possible to obtain safe and practical ways to understand this children's universe. After all, they know, understand and help us understand how their thoughts and ideas work on many subjects. The understanding of bullying as a systematic intimidation, can often clarify that behavior of supposed implication of children in this age group and that some professionals and family members understand to be common. In these cases, a formative action for teachers and administrative staff would be pertinent in order to validate what children are bringing to adults in relation to their complaints about other people's behavior.

Keywords: Bullying, perceptions, children, elementary education, experiences.


ANÁLISIS DE LAS PERCEPCIONES DE LOS ESTUDIANTES DEL 2º AÑO DE EDUCACIÓN FUNDAMENTAL SOBRE EL ACOSO ESCOLAR

Resumen. Estudio transversal sobre bullying escolar. Objetivo: identificar y conocer las percepciones de los niños del segundo año del primer ciclo de la escuela primaria en una escuela pública de la ciudad de Niteroi sobre el acoso escolar. Herramientas de investigación: entrevistas con estudiantes. Metodología: método cualitativo cuantitativo y descriptivo con análisis de contenido y técnica de grupos focales. Muestra: aproximadamente 30 estudiantes del primer ciclo de la escuela primaria. Los datos recopilados en los cuestionarios fueron tratados estadísticamente y las entrevistas con los estudiantes fueron grabadas, escuchadas y transcritas y el análisis de contenido se dirigió a los registros verbales de los estudiantes. Resultados: Este estudio permitió observar que los estudiantes aportaron mucha información sobre el acoso y la violencia, con claridad y objetividad, lo que también facilitó el enfoque del análisis de contenido en el tratamiento de la información. Al realizar un estudio dirigido a la cultura infantil, basado en la información aportada por los alumnos, como instrumento de análisis metodológico, es posible obtener formas seguras y prácticas de comprender el universo de este niño. Después de todo, ellos saben, entienden y nos ayudan a comprender cómo funcionan sus pensamientos e ideas en muchos temas. La comprensión del acoso como una intimidación sistemática a menudo puede aclarar ese comportamiento de supuesta implicación de los niños en este grupo de edad y que algunos profesionales y familiares entienden que es común. En estos casos, una acción formativa para los maestros y el personal administrativo sería pertinente para validar lo que los niños traen a los adultos en relación con sus quejas sobre el comportamiento de otras personas.

Palabras clave: Bullying, percepciones, niños, educación primaria, experiencias.


Introdução

A sociedade tem convivido com o bullying há muito tempo, porém, a falta de atenção ao fenômeno provocou consequências desastrosas. No Brasil, é no final da década de 90 e início da 1ª década do século XXI que pesquisadores como Canfield (1997), Neto e Ferreira (2000/2001) e Fante (2000/2002), trazem a público o reconhecimento do bullying como um problema de saúde pública, considerando as tragédias decorrentes do fenômeno, como: suicídios, crimes, agressões entre outros (Fante e Prudente, 2015, p.135). É uma prática que ocorre em todos os segmentos sociais e inclusive nas escolas, desestabilizando emocionalmente quem sofre e fortalecendo quem o pratica. A escola com sua função social, tem sofrido com ações de bullying nos diversos setores: cultura, religião, raça, gênero e etc. A diversidade tem causado desconforto social, o que para alguns pode ser resolvido com este tipo de prática. Tem-se tornado fundamental no contexto escolar a constante orientação ética e moral visando o respeito ao próximo em sua essência.

Essa inquietude vivenciada cotidianamente no espaço escolar contribuiu de forma significativa para esta investigação científica. Com uma prática docente que valoriza a fala da criança reconhecendo nela seu potencial cultural, social e de conhecimentos adquiridos ao longo de suas vivências, este estudo, teve como objetivo identificar e conhecer as percepções dos alunos do 2º ano do ensino fundamental da EMPELEV, sobre o bullying escolar, a partir de suas experiências socioeducativas. Ao optar pela metodologia de entrevista, como uma ferramenta de investigação, tem-se a intenção de (re) conhecer o fenômeno com base nos registros verbais infantis, ou seja, seus saberes e vivências em relação a este fenômeno. Optou-se por um estudo prévio a uma pesquisa doutoral, para avaliar o que sabiamente nos revela Demartini et al (2005, p.2):

No decorrer da pesquisa, foi possível também reconhecer a sobrecarga de emoções trazidas nos relatos dos alunos. Identificou-se entre o público alvo da pesquisa, ideias e comportamentos por vezes conflitantes tanto com a educação recebida, quanto a expectativa ou visão da família em relação a seus filhos. Ademais foi possível verificar a capacidade de percepção de alguns alunos sobre si mesmos e para com os outros, exigindo deles um critério de observação, crítica e auto crítica.

Segundo Demartini et al. (2005, p. 2) torna-se necessário a escuta das narrativas infantis para que coletivamente haja um enfrentamento dos sérios problemas da sociedade na atualidade. 

A autorização prévia para a pesquisa, contou com a documentação existente e disponível na escola, pois entende-se o espaço escolar como lócus de aprendizagem e pesquisa. Foi preservada e resguardada a identidade dos participantes, considerando que os registros verbais revelaram suas opiniões e algumas informações de caráter mais intimista.


Metodologia

Estudo transversal com abordagem quali quantitativo e descritivo para identificar e conhecer as percepções dos alunos sobre o bullying. A opção pela técnica do grupo focal, possibilitou uma maior proximidade para com os pesquisados, que se posicionaram de forma descontraída, apesar da tensão emocional trazida pelo tema, possibilitando uma escuta coletiva, o que oportunizou ao grupo, o conhecimento de suas ideias, conceitos, e até mesmo seus posicionamentos comportamentais sobre o tema.

A amostra contou com 30 alunos do 2º ano do ensino fundamental de uma escola pública de Niterói que foram divididos em dois grupos.  Quanto às identificações dos grupos, considerou-se grupo 1, o grupo de 14 alunos do 2º ano B e o grupo 2, o grupo de 16 alunos do 2º ano A.

Como critérios de inclusão aos participantes: alunos devidamente matriculados e frequentes no 2º ano do 1º ciclo do ensino fundamental da escola onde a investigação estava sendo desenvolvida; sem enfermidades física ou psíquica que interfiram na pesquisa. Critérios de exclusão: alunos que não cumprissem os requisitos anteriormente citados. 

Para a sistematização dos registros verbais foi elaborado tabelas com as informações referentes a cada pergunta feita na entrevista e em seguida feito a análise de conteúdo. Quanto a análise estatística das respostas dos alunos utilizou-se o programa excel, para a mensuração dos resultados e a criação de gráficos. 

No início da pesquisa, ao propôr a escuta de suas percepções sobre o bullying, dois alunos se manifestaram fazendo a seguinte pergunta: “É para falar tudo?”, “Tudo mesmo? Passando assim a preocupação com julgamentos e condenações diante de suas falas. Foram acolhidos para exporem seus pensamentos livremente.

Ambos os grupos participaram de uma atividade motivacional previamente a aplicação da entrevista, que contou com uma contação de história cujo conteúdo remete ao tema sobre bullying. Após a leitura, foi feito a interpretação da história, com base na postura comportamental do personagem. Os alunos se posicionaram em relação ao personagem e em seguida foi perguntado se o personagem estava praticando bullying para com o outro. A maioria reconheceu a prática.

Receberam então a informação de que a partir daquele momento estariam participando de uma pesquisa sobre bullying escolar e que seus relatos sobre o tema seriam de grande relevância para a pesquisa.

A pesquisa contou com o seguinte levantamento de dados em relação ao tema: identificação de similaridade ou não entre os conceitos de bullying e violência e conceituação desses termos com base nos conhecimentos adquiridos pelos os alunos em seus contextos sociais, identificação dos alunos como vítimas ou praticantes do bullying; percepções dos alunos quanto a quem pratica o bullying e a influência da família em relação aos comportamentos diante do contexto de violência.

As falas dos alunos, nesta pesquisa receberam a nomenclatura de “registro verbal”, termo adotado por Silva (2010), em sua pesquisa “Utilização do desenho como instrumento para análise da percepção de risco e medo no trânsito”. Nesta pesquisa Silva (2010) fez uso deste termo para caracterizar as contribuições das falas das crianças nos desenhos, referindo-se como “Registro gráfico (desenhos) X Registro verbal (fala das crianças)”. Neste estudo manteremos o entendimento das falas dos alunos com a nomenclatura de registros verbais (Silva, 2010). 


Resultados

Como a pesquisa teve início com a verificação de similaridade ou não entre o conceito de bullying e violência e a conceituação do termo por parte dos alunos, torna-se importante o esclarecimento sobre os conceitos desses termos, a fim de compreender a forma de pensamento dos alunos e consequentemente referenciá-los teoricamente. Paviani (2016, p. 9) esclarece que

“a origem do termo violência, vem do latim violentia, que expressa o ato de violar outrem ou de se violar. Além disso, o termo parece indicar algo fora do estado natural, algo ligado à força, ao ímpeto, ao comportamento deliberado que produz danos físicos tais como: ferimentos, tortura, morte ou danos psíquicos, que produz humilhações, ameaças, ofensas”.

O autor ainda informa que filosoficamente “a prática da violência expressa atos contrários à liberdade e a vontade de alguém e reside nisso sua dimensão moral e ética”. Ressalta ainda que “essas características gerais do conceito de violência variam no tempo e no espaço, segundo os padrões culturais de cada grupo ou época, e são ilustradas pelas dificuldades semânticas do conceito”.

Quanto ao conceito de bullying, Silva (2010) esclarece que por ser uma palavra inglesa e sem tradução no Brasil, a expressão bullying é “utilizada para qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas. Dentre os comportamentos violentos estão: as agressões, assédios e ações desrespeitosas, realizados de forma recorrente e intencional por parte dos agressores”.

Sobre a definição de bullying, Fante (2012, p.29) o revela como “um comportamento cruel intrínseco, onde os mais fortes convertem os mais fracos em objetos de diversão e prazer, através de “brincadeiras” que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar”.

Em recente lei que entrou em vigor em 2015 o bullying é classificado como

Trazido os conceitos e definições referente ao fenômeno, parte-se neste momento para os registros verbais dos alunos. Vale ressaltar que os conhecimentos trazidos por eles foram transcritos na íntegra, analisados com base na construção de seu próprio pensamento, levando em conta sua vivência social e relacionado aos referenciais teóricos sobre o assunto. Em momento algum houve análise subjetiva de suas ideias evitando desta forma contaminar a pesquisa com a opinião do adulto (pesquisador), mantendo desta forma o foco nas percepções infantis.

Etapa 1. Similaridade entre os conceitos de bullying e violência

Figura 1. Similaridade entre os conceitos de violência e bullying
Nota: Fonte: (própria)

Para este questionamento as crianças precisam sinalizar de forma afirmativa ou negativa (levantando as mãos) se bullying e violência apresentavam o mesmo significado ou não.

Comentário

De acordo com os resultados obtidos, a figura 1 expõe que para os alunos existe uma similaridade entre violência e bullying. Ao comparar os conceitos teóricos entre os termos é perceptível a relação entre eles, diferenciando-se apenas no que diz respeito a intencionalidade, o que no bullying pode ser tão somente por prazer; e continuidade, pois no bullying é uma agressão repetitiva da violência.

Como há essa especificidade conceitual referente ao bullying, e que para os alunos talvez não tenha havido nenhuma orientação conceitual sobre o termo, seja em sua vida social e ou escolar, em sua maioria compreendem ambos os conceitos como semelhantes.

Etapa 1.1 e 1.2. Percepções dos alunos sobre a conceituação de violência e bullying.

Visando compreender efetivamente suas percepções sobre os termos, essa questão traz a possibilidade dos alunos em expor as possíveis semelhanças e diferenças entre os conceitos, de acordo com seus conhecimentos.

Desta forma torna-se importante destacar os referenciais teóricos sobre a caracterização de ambos os conceitos compreendendo que este procedimento auxiliará no momento da análise dos registros verbais dos alunos.

Paviani (2016, p. 10-11) revela que como o conceito de violência é amplo, torna-se difícil tipificar e classificar a violência pois considera que tudo depende “dos critérios escolhidos, das evidências da realidade empírica, dos modos de combater a violência e de outras modalidades”. Mas compreende ser útil à sua tipificação pois nos permite imaginar seus aspectos. Desta forma, o autor menciona os seguintes tipos de violência: “a violência provocada e a gratuita, a real e a simbólica, a sistemática e a não sistemática, a objetiva e a subjetiva, a legitimada e a ilegitimada, a permanente e a transitória”. O autor esclarece que essas tipificações são didáticas visando a visualização do fenômeno da violência, mas em seguida traz a violência real através:

Percebe-se que o autor cita o fenômeno bullying como um tipo específico de violência, reforçando ainda mais o entendimento dos alunos no que se refere a semelhança entre os conceitos, mencionados anteriormente.

Quanto ao bullying, Silva (2010, p 23-24) o classifica em suas formas: verbal, onde considera as seguintes ações: insultar, ofender, xingar, fazer gozações, colocar apelidos pejorativos, fazer piadas ofensivas, “zoar”; físico e material: bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima, atirar objetos as vítimas; psicológico e moral: irritar, humilhar e ridicularizar, excluir, isolar e ignorar, desprezar ou fazer pouco caso, discriminar, aterrorizar e ameaçar, chantagear e intimidar, tiranizar, dominar, perseguir, difamar, passar bilhetes e desenhos entre os colegas de caráter ofensivo, fazer intrigas, fofocas ou mexericos (mais comuns entre as meninas), sexual: abusar, violentar, assediar e insinuar e virtual: cyberbullying, difusão, de calúnias e maledicências de forma avassaladora por meio de aparelhos de comunicação (celular e internet) .

Figura 2: Percepções sobre o conceito de violência
Nota: Fonte: (própria)

Comentário

Em suas narrativas os alunos foram objetivos e claros, trazendo uma linguagem compreensível e compatível ao seu contexto sociocultural.

Os registros verbais foram transcritos e analisados de acordo com o conteúdo oferecido. Para facilitar a análise das informações trazidas pelos alunos, os registros verbais foram categorizados em três formas de violência: violência como forma física: caracterizada por contato físico agressivo e ou violento; violência como forma física e material: caracterizada pelo contato físico agressivo e ou violento, com a utilização de objetos, armas de fogo ou armas brancas; violência como forma física e verbal: caracterizada pelo contato físico agressivo e ou violento, aliado a agressão verbal e ou psicológica.

Desta forma foi possível verificar que a maior parte das crianças percebem a violência como forma física, trazida em seus registros verbais como: Empurrar, bater; E.... violência é.... uma coisa tipo se a pessoa tá te batendo, te maltratando, te agredindo é isso; É... puxar cabelo, chute na cara é... dar soco na pessoa, um monte de coisa!; E bater na cara dos outros, é ... machucar, é ... empurrar os outros; Empurrar, puxar o cabelo; Quando a pessoa vai te bater e você não vai gostar; Bater; É quando uma pessoa fica batendo na outra; Ficar batendo nos outros; É quando uma pessoa quer bater numa outra; É quando bate nas pessoas e ela não gosta; Quando as pessoas batem nas outras elas não gostam; Quando te bate, chuta, dá na cara do outro; É quando uma pessoa bate na outra bem forte; Quando a outra bate.

Apesar de ter surgido na pesquisa com um percentual menor, as crianças percebem a violência como forma física e material, caracterizada nos registros verbais dos alunos como: Ahhh, tiro, porrada e bomba e... morte e.... tiro no meio da cara, facada e .... bater na mulher (Aluno H), Ruim. _ Bater, ... pegar chinelo e bater....; Tiro ... e tudo que o aluno H, falou! ; Tiro, porrada e bomba. É tipo chinelo, extensão (bater de fio), porrada, soco na cara; Violência é dar tiro, é dá tiro de metralhadora é SKA, AK (referindo-se a tipos de armas) facada, facão; Seria você dar um soco na cara, enfiar sua faca no coração dos outros, matar uma pessoa sem motivo nenhum, assassinar uma pessoa e apagar todas as provas, culpar uma pessoa e também atirar no cérebro de uma pessoa.

Com um percentual ainda menor que os demais dados trazidos a violência como forma física e verbal, também é abordado pelos alunos, que referem-se a ela da seguinte forma: Bater, xingar, me chamar de gorda, me chamar de..., me dar banda, xingar; Dá soco, bate, xinga.

Esses registros verbais dos alunos caracterizaram suas percepções em relação a violência. Como neste artigo tem-se o objetivo de identificar e conhecer poderíamos tão somente pararmos até aqui, considerando que seus conhecimentos vão de encontro com os referenciais teóricos sobre o tema. Mas vamos um pouco mais adiante, vamos trazer os dados da violência apenas contra crianças e adolescentes, mesmo tendo duas crianças citado a violência contra a mulher.

De acordo com a Sociedade de Pediatria Brasileira com base nos dados do Sistema Nacional de Agravos e Notificações (SINAN), do Ministério da Saúde, todos os dias em nosso país são notificados em média 233 agressões de diferentes tipos (física, psicológica e tortura) contra criança e adolescentes com idades de até 19 anos. No ano de 2017 a soma destes três tipos de registros chegou a 85.293 notificações, tendo boa parte da ocorrência acontecido em ambiente doméstico, ou por familiares e de convivência das vítimas. Deste total 69,5% (59.293) são decorrentes de violência física; 27,1% (23.110) de violência psicológica; e 3,3% (2.890) de episódios de tortura.

Quanto a violência associada à utilização de objetos, arma de fogo ou branca; de acordo com os dados da pesquisa ATLAS da violência 2019, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada e o Fórum brasileiro de segurança pública (Cerqueira et al, 2018, p. 81), “entre os anos de 1980 a 2017, cerca de 955 mil pessoas foram mortas com o uso de armas de fogo”. Além disso é possível perceber em suas narrativas que os armamentos elencados são comumente visíveis em seus cotidianos nas comunidades periféricas das grandes cidades. São armamentos pesados utilizados pelos comandos de tráfico de drogas.

Com base nesses dados podemos verificar e concluir que as crianças têm o devido conhecimento sobre o assunto, seja em virtude de seu contexto social, demarcado por conflitos e violências intra e extra familiar, ou seja com base nas informações repassadas pelas mídias – televisiva ou on line (internet).

Figura 3: Percepções sobre o conceito de bullying
Nota: Fonte: (própria)

Comentário

Quanto ao procedimento referente à categorização das formas de bullying, manteve-se a estratégia conforme o realizado com o conceito referente a violência. A proposta consistiu em uma melhor compreensão dos registros verbais dos alunos quanto ao conceito do fenômeno. Como já mencionado anteriormente, Silva (2010) categorizou as formas do bullying em virtude de suas variedades como: verbal, físico e material, psicológico e moral, sexual e virtual.

Para esta pesquisa os registros verbais foram categorizados como: bullying como agressão verbal: caracterizado por xingamentos, apelidos pejorativos; bullying como agressão física e verbal: caracterizado por contato físico agressivo e violento e a agressão verbal e bullying como agressão psicológica: caracterizado por assédio emocional e moral. Cabe ressaltar que esta categorização no momento da análise dos dados, teve como principal proposta a separação das agressões: verbal, física e emocional.

Como podemos verificar no gráfico, em sua maioria, os alunos revelaram que compreendem o conceito do bullying como sendo relacionado ao bullying como agressão verbal, trazidos em seus registros da seguinte forma: Ofensa, ... tipo chamar sua baleia, seu gordo..., seu merda; Chamar de chato..., chamar de gordo....; Chamar de corno, chifrudo, idiota, merda, filha da mãe. “Desça daí seu corno, desça daí!” (imitando o sotaque nordestino); O bullying é uma ofensa, tipo se a pessoa tá te chamando de gordo, baleia, feio, isso é uma ofensa; É chamar de corno, boi, vaca ...rsrsrs, .... cachorra e ... rsrsr não..., calma aí..., qual o nome daquela coisa mesmo? Rsrsrs cobra fedorenta cocô; Pode ser ficar assustando a pessoa ou ficar falando gorda, ficar falando baleia, ficar falando girafa e... minha irmã é girafa então eu falo assim mesmo... e ficar falando que é um bicho mais .... é cachorro; Bullying é chamar minha mãe de gorda, chamar você (referindo-se a professora), chamar de... chamar de outras coisas, chamar coisas todos de porcaria, chamar tudo de chato, idiota; Bom seria um... seria um tipo de pessoa que só sabe falar ... ah, teu feio, teu sem vergonha, teu sem coração, depois socar a cara dos outros sem motivo nenhum, a professora te coloca de castigo e depois, depois faz tudo de novo e depois daqui a pouco você bate nas pessoas, na pessoa, que você não gosta e depois quando você é culpado, ai você... ai como a professora defende tanto você, você decide fingir de machucado e culpar a pessoa que você não gosta; Xingar; Xingar; É tipo quando a pessoa vai falar você é gorda você é chata; Quando uma pessoa maltrata a outra; É quando essa pessoa, chamam de gorducho, dentuço; É quando as outras pessoas xingam; É quando xinga de gorda, baleia; Pra mim e quando uma pessoa chama a outra do que ela não gosta; Quando a pessoa fica dando apelido para outras pessoas; Tem alguém que é gorda e a pessoa fala gorducha, baleia; É quando uma pessoa xinga a outra de não sei o que e quando uma pessoa xinga de gordo de magro de palito de dente.

Outras crianças também trouxeram o bullying como agressão física e ou verbal Bater, chamar de burro; Bullying para mim é mais específico, é mais puxado nos Estados Unidos, porque lá a galera é mais tipo, porque o bullying nos EUA o pessoal bota a cara dos outros na pisada prende no armário, dá soco até sangrar essas coisas aí; Bate e xinga; Quando xinga e bate. Um grupo menor o revelou o Bullying como agressão psicológica: Bullying é ficar implicando com as pessoas e fica chamando as pessoas de gorda, chata, irritante; É tipo quando a pessoa vai falar você é gorda você é chata; É tipo uma pessoa que não para de encher o saco do outro; É quando uma pessoa vê a bunda do outro. É tipo ele, ele olha na janela e fica vendo as pessoas fazendo o número 1 e número 2; É quando uma pessoa fica toda hora implicando com a outra; Bullying é ficar implicando com as pessoas e fica chamando as pessoas de gorda, chata, irritante.

Em recente artigo publicado, referente a um estudo epidemiológico transversal, de caráter exploratório que consistiu em analisar a prevalência de vitimização e agressão por bullying e tipologias associadas aos fatores sociodemográficos e comportamentos de risco em estudantes do 6º ao 9º ano de escolaridade no município de Campina Grande, Paraíba, Marcolino et al (2018, p.3), nos revela as seguintes estatísticas:

Dentre os tipos de bullying sofridos pelos estudantes, o bullying psicológico (espalhar fofocas, excluir de atividades, xingar, ameaçar, ridicularizar) predominou nas situações; 23,3% dos estudantes relataram sofrer este tipo de violência escolar. Enquanto o bullying físico (dar tapas, socos, chutes, empurrar) e virtual (enviar mensagens por via telefone ou internet de ameaça, xingamento, ridicularização, ofensa) alcançaram 15% e 5,5% dos estudantes, respectivamente”.

Cabe destacar que o estudo considerou o xingamento, como bullying psicológico.

Apesar da estatística ter trazido um grupo de estudantes com uma faixa etária maior do que os pesquisados para este artigo, é possível uma análise comparativa entre este artigo e os dados oferecidos pela pesquisa de Marcolino et al (2018), pois estamos na verdade trazendo dados reais passíveis de projeções. Pois se hoje os alunos do ensino fundamental apontam para uma maior incidência a agressão verbal (xingar), considerada na pesquisa de Marcolino et al como psicológica, (xingar entre outros), é possível que este tipo de agressão se mantenha futuramente. Partindo deste pressuposto podemos observar o quanto as crianças sabem sobre o que estão dizendo.

Ao comparar as duas tabelas conceituais de violência e bullying, torna-se mais claro que a diferenciação entre os conceitos pode ter sido reconhecida pela forma de agressão aplicada, na violência os alunos apontaram maior incidência para a forma físico e material e para o bullying a forma verbal. O que pode estar relacionado com suas próprias vivências escolares. Os alunos sabem que existem conflitos pontuais onde ocorrem por vezes agressões verbais e ou físicas que possuem um contexto com começo, meio e fim. Porém também sabem que existem aqueles conflitos sem explicação ao certo, sem sentido, onde o agressor implica por implicar, xinga por xingar, agredir por agredir e que acaba tão somente por trazer mágoa a quem é o ofendido ou agredido.

Podemos também compreender que estas narrativas infantis, trazem não somente a interpretação destes conceitos por parte dos alunos, mais principalmente a compreensão dos conceitos devido as suas experiências sociais. Vygotsky (1992, 28) nos ajuda a compreender isso esclarecendo que:

Dando continuidade sobre seus conhecimentos a partir de seus registros verbais a pesquisa traz ao aluno a possibilidade em expor sobre sua experiência social em relação ao bullying, seja como vítima ou vitimador. Para isso, torna-se importante esclarecer as características referentes ao protagonismo do bullying: vítimas, agressores e espectadores.

Quanto às características das vítimas Silva (2010, p. 37) esclarece sobre a existência da vítima típica, da vítima provocadora e da vítima agressora. 

No que diz respeito

As vítimas agressoras são as que reproduzem os maus tratos sofridos a outras vítimas ocasionando assim um círculo vicioso do bullying (Silva, 2010, p. 41). 

Quanto ao agressor

Temos ainda neste contexto do fenômeno bullying o espectador que Fante (2012, p. 73) esclarece como sendo o aluno que presencia o bullying, porém não o sofre nem o pratica. Representa a grande maioria dos alunos que convive com o problema e adota a lei do silêncio por temer se transformar em novo alvo para o agressor.

Etapa 2: Protagonismo do bullying

Figura 4: Protagonismo no bullying
Nota: Fonte: (própria)

Durante todo o processo da pesquisa, os alunos se expuseram de forma bastante natural. Não houve julgamento da postura de um ou de outro aluno, nem mesmo crítica quando alguns se acusavam. Ocorreram delações, porém sem conflitos. Neste momento da pesquisa, onde foi questionado seus protagonismos em relação ao bullying, ou seja, qual a posição deles em relação ao fenômeno, os alunos deixaram transparecer sentimentos quanto a isso, percebem-se como vítimas, espectadores ou mesmo agressores. Foi uma vivência bastante interessante, pois eles puderam se reconhecer no contexto e designar a eles a autoria ou inculpabilidade, caracterizando a capacidade que possuem em perceber a si mesmo.

A capacidade de percepção de si e do outro, a empatia percebida nos momentos em que revelavam se vítimas foram situações que trouxeram maior sensibilidade no momento da pesquisa, o que permitiu vislumbrar a competência e o discernimento, dos alunos diante de questões sociais de grande relevância ao processos de desenvolvimento humano. Gomes e Aquino, (2019, p. 5) reforçam a competência da criança enquanto sujeito social, afirmando que

Percebe-se nos resultados apresentados na figura 4, que a maioria das crianças expuseram que não praticam o bullying (57%) e que os demais revelaram a prática do fenômeno (43%). De acordo com as estatísticas em relação à incidência do bullying no espaço escolar, com alunos do 6º ao 9º ano de escolaridade na faixa etária entre 13 e 17 anos, a pesquisa PISA (2015) destaque que 7,4% dos alunos informaram que sentem-se humilhados pelas provocações e 19,8% já haviam praticado o bullying, é uma mostra contrária ao que apareceu nesta pesquisa, mas que pode vir a ser uma realidade futura, caso não se tenha um trabalho ético e moral no contexto escolar, considerando que quem sofre o bullying também pode praticá-lo levando em conta sua frustração e incapacidade de superar a mesma.

Apesar de Fante e Pedra (2008, p.61) esclarecerem que os espectadores são as crianças de toda a escola que presenciam as ações de bullying e nada fazem para intervir, no momento da entrevista com os grupos, esses espectadores apareceram narrando fatos vistos. Em suas narrativas ficou claro a intenção de repúdio e delação, para os que praticam o bullying e de solidariedade para os que sofrem a ação. Fante e Pedra (2008, p. 61) explicam este comportamento pois, “espectadores que presenciaram constantemente as situações de constrangimento vivenciado pelas vítimas, sofrem as suas consequências. Muitos espectadores repudiam as ações dos agressores, mas nada fazem para intervir”. 

Etapa 3: Características do bullier

Buscando maior aprofundamento em suas impressões para a pesquisa, a etapa 3 traz as impressões dos alunos sobre os praticantes do bullying. Desta forma obteve-se os seguintes resultados quanto às características do bullier: Malvado (4); Não tem paciência (2); Feioso (6); Bonito (1); Chocolate amargo embaixo do tapete (1); Má sem sentimentos; Não tem coração; Não tem amor, nem carinho; Ela representa pra mim uma pessoa implicante; maltratadora que implica todo dia comigo; Uma pessoa que não tem coração pelas pessoas; ameaçadora; Ela fica maltratando os outro ela é chata; Implica muito comigo e também é má pessoa que tem mais coisas que você; Maldosa; É popular, é metida; Tem deficiência; Uma pessoa sem coração, sem cérebro e ridiculamente chata; Chata, ridícula e feia. Do grupo 2, dois alunos não souberam, identificar o bullier.

Percebe-se que em suas respostas, os alunos identificaram o agressor como uma pessoa que apresenta variadas demandas comportamentais, tais como: impaciência, perversidade (no sentido de malvado, sem sentimento, sem coração); carência (não tem amor, nem carinho); inconveniência (implicante, chata, metida). Quanto a utilização das palavras feioso, bonito, essas não se relacionam a aparência física, mas a postura comportamental adotada que diante de um contexto social não é bem vista. Podemos esclarecer que este tipo de característica (feio e bonito) tem muita utilização por familiares quando a criança é pequena e apresenta determinados comportamentos socialmente, ou seja, quando se comporta adequadamente está bonito e quando contrário, feio. Quanto ao uso das expressões: tem deficiência; ...sem cérebro...; podemos considerar, que os alunos compreendem o bullier como uma pessoa adoecida (no que diz respeito a deficiência) e que não pensa antes de fazer alguma coisa. Outra situação interessante a destacar na pesquisa é que dois alunos criaram e utilizaram o termo bullyista para identificar o praticante do bullying e por trás deste termo trazem como, característica a inconveniência (implica com todo mundo).

É possível compreender os registros verbais das crianças, pela sua clareza e objetividade e mesmo quando se expressam utilizando um só termo, ou a partir de respostas um pouco mais subjetiva é possível conhecer seus conceitos. Vygotsky citado por La Taille (1992, p.30), nos esclarece sobre formação de conceitos das crianças:

a linguagem do grupo cultural onde a criança se desenvolve dirige o processo de formação de conceitos: a trajetória de desenvolvimento de um conceito já está predeterminada pelo significado que a palavra que o designa tem na linguagem dos adultos. 

Quanto a resposta metafórica do aluno do grupo 1 “chocolate amargo embaixo do tapete”, foi solicitado ao mesmo, esclarecimentos quanto a subjetividade de sua resposta e por mais incrível que possa parecer sua resposta foi clara e objetiva.

“__ Chocolate amargo tá representando a pessoa. É muito chata, é muito ruim. Agora embaixo do tapete é que ela não serve pra nada mesmo, é que ela não serve pra nada mesmo.

__ Entendi, então o que está debaixo do tapete não serve para nada? É como se fosse uma sujeira escondida? Pode ser? (professora)

_ Não, não ... é que eu imaginei que embaixo do tapete é o chão”.

Com essa explicação o aluno permite compreender que o agressor do bullying é uma pessoa inconveniente (chata) e perverso (ruim) e sem nenhuma função social.

Uma outra situação que surgiu de um aluno, refere-se a seguinte expressão: “Implica muito comigo e também é má pessoa que tem mais coisas que você”. Nesta expressão temos três situações que podem ser destacadas: a implicância, a perversidade e a ostentação. Existem crianças que têm a oportunidade de ter mais brinquedos, mais materiais escolares entre outros objetos que alguns outros não têm acesso. E desta forma, entendem serem superiores aos outros por isso. E então expõe como troféus seus pertences na tentativa de humilhar o outro. Muito provavelmente a criança que fez essa revelação deve ter tentado expor essa citação “que tem mais coisas que você”, como uma das características do bullier.

Vygotsky citado por La Taille et al (1992, 28), nos esclarece que

Etapa 4: Influência familiar no comportamento infantil diante da violência

Na etapa 4 os alunos expuseram a ocorrência ou não da influência familiar quanto suas reações diante da violência no contexto escolar. Buscou-se saber dos alunos se suas famílias os orientam em relação a revidar as atitudes agressivas diante das práticas de bullying.

No grupo 1, 9 alunos expuseram que suas famílias orientam a não revidar, a não agredir. Dentro deste grupo destacamos 3 esclareceram que as famílias orientam a procurar por um adulto no momento da agressão, outras 2 informaram que mesmo sendo orientadas a não revidar, batem e uma (1) outra revelou que a família não orienta que agrida, porém orienta a se defender. Alguns alunos esclareceram que a família orientava a não revidar e sinalizava como familiares favoráveis a não agressão, o pai, a irmã, mãe, entre outros.

Quanto ao estímulo a agressão, 4 alunos apontaram o pai (1), a mãe (2) e o irmão (1), como os orientadores para que a criança revidasse a ação agressiva. O aluno que informou receber orientação do pai disse que esclarece ao mesmo que precisa conversar para resolver os problemas.

Um (1) aluno foi direto ao dizer que a mãe é diferente, e que orienta a revidar.

No grupo 2, oito (8) alunos revelaram que suas famílias não incentivam a revidar a agressão sofrida e deste grupo 1 aluno disse receber a orientação da mãe para falar com adulto (ou professora). Apenas 1 aluno não soube responder, as demais responderam de forma bem natural e autêntica.

Quanto o estímulo a revidar, um (1) aluno disse receber orientação da família para agredir se for agredida. 

Outras esclareceram que a família não orienta a revidar a agressão, mas o pai sim (3), o irmão (1), a avó (1). Dois (2) alunos revelaram que reagem e revidam por conta própria, porém uma delas disse que a mãe orienta a falar com a professora, com o adulto e se ela vê que não resolveu reage, por conta própria e outra falou que a família não ensina mas ela dá logo.

Foi possível notar que houve uma média entre as famílias que orientam a não revidar e as que incentivam a “defenderem-se” ou revidar. Foram ao todo 15 famílias, porém deste grupo, 3 alunos mesmo sendo orientados a não revidar, informaram que revidam. Vale destacar também as duas crianças que afirmam revidar por conta própria sem o apoio da família positivo ou negativo. O que chama a atenção para estas respostas é que as crianças revelaram a pessoa da família que os orienta a revidar e os que aconselham a não revidar. Um outro fato interessante refere-se a criança que mesmo sendo incentivada pelo pai a revidar, reage não aceitando tal orientação e ainda orienta o pai que é conversando que se deve resolver os conflitos.

Percebe-se que há influência da família, porém há também o entendimento de algumas crianças em relação aos fatos e as consequências de determinadas ações. Antunes (200, p. 13 e 14) nos explica que 

Ficou claro no questionamento em relação a orientação familiar na gestão de conflitos, a influência das personalidades paternas sobre as crianças. Possibilitando observar o quanto de suas personalidades, temperamentos e caráter foram aqui expostos. 


Discussão e conclusões

Este estudo possibilitou observar que os alunos trouxeram muitas informações a respeito do bullying e violência e foram claros e objetivos em suas respostas possibilitando a compreensão e o conhecimento de suas ideias e pensamentos. Desta forma, considerou-se que abordar a cultura da infância, com a utilização dos registros verbais como um instrumento de análise metodológica, é um caminho possível, seguro e prático, afinal as crianças, sabem, compreendem e nos ajudam a entender como funcionam seus pensamentos e ideias sobre muitos assuntos. Arroyo (2016), referenda a audição dos alunos em pesquisa, pois além de valorizá-los, permite maior conhecimento e compreensão sobre eles e revela:

Ao longo de todo o processo da pesquisa, os alunos demonstraram estarem à vontade diante dos questionamentos e de suas respostas. Expuseram seus pensamentos, sem receios de julgamentos, citaram exemplos, vivências e muitos saberes sobre o assunto, afinal o tema trazido à tona, além de ser de grande seriedade, em virtude das graves consequências no que diz respeito a saúde emocional de nossas crianças e jovens e atual e está dentro de um espaço onde eles desejam encontrar segurança e respeito que é a escola.

Os alunos demonstraram a partir de seus registros verbais que conhecem a violência e o bullying em suas diferentes formas, assédio, agressões físicas com e sem utilização de diferentes tipos de armas ou objetos, ofensas, xingamentos. E que apesar de terem trazido características semelhantes em relação aos termos, revelam que são conceitos diferentes, tendo prevalecido para a violência a agressão física (agressões corporais) e no que se refere ao bullying a agressão verbal (agressões morais, psicológicas e emocionais). Consideram o bullier uma pessoa com comprometimento emocional (carente, sem sentimento), comportamental (malvado, feio) e até mesmo patológico (sem cérebro, deficiente). Os alunos têm consciência e compreendem que a violência não é a melhor escolha, mas por vezes alguns optam por este tipo de atitude seja por orientação familiar ou por instintos protetivos. Outros entendam que diálogo e a ajuda de adultos (professores ou não) facilitam o processo de amenização de conflitos. São escolhas e senso crítico em relação a determinadas orientações que recebem em seus contextos sociais ou que definem por escolha pessoal.

Como é percebido os alunos apresentam capacidade para expor suas vivências sociais, conhecem e reconhecem assuntos importantes a serem discutidos no contexto escolar, a ponto de contribuírem de forma eficaz em suas produções de pensamento e conhecimento. Com isso, pode-se verificar inclusive que com base em seus conhecimentos e vivências é possível até mesmo uma intervenção psicossocial, para a melhora das relações socioeducativas.

Um destaque importante a ser oferecido nesta pesquisa refere-se a importância na compreensão do bullying como uma intimidação sistemática, pois no contexto escolar, pode esclarecer por muitas vezes aquele comportamento de suposta implicância de crianças nesta faixa etária e que alguns profissionais e familiares compreendem ser comum. Nestes casos seria pertinente uma ação formativa aos docentes e equipe administrativa a fim de validar o que as crianças estão trazendo para os adultos no que diz respeito às suas queixas em relação ao comportamento alheio.

É importante pensar em intervenções que busquem compreender esta ação de forma mais ampla, a partir de uma conversa com as crianças, com as famílias e com os profissionais da educação, visando inclusive a minimização das ações dos bulliers ou até mesmo criar uma prática para que esse tipo de comportamento, não se postergue nas demais fases do desenvolvimento dessas crianças. 


Referências

Antunes, C. (2000) A inteligência emocional na construção do novo eu. Editora Vozes Ltda

Arroyo, M. (2016) Imagens Quebradas Trajetórias e tempos de alunos e mestres. Editora Vozes Ltda

Brasil (2015) Ley 13.185 Programa de combate a la Intimidación Sistemática (Bullying) Obtenido de www.planalto.org.br

Cerqueira, D. et al. (2018) Atlas de la violencia 2019. Instituto de Investigación Económica Aplicada

Demartini, Z.B.F. (2005). Infancia, investigación y relaciones públicas. Por una cultura de la infancia: metodologías para la investigación con niños. (pp.1-17). Editora Autores Asociados.

Fante, C., y Pedra, J. A. (2008). Bullying escolar: preguntas y respuestas. Artmed.

Fante, C. (2012). Fenómeno bullying: cómo prevenir la violencia en las escuelas y educar para la paz. (7ᵃ Ed.). Versus Editora.

Fante, C. y Prudente, N.M. (2015) El acoso escolar en el debate. Brasil: Ediciones Paulinas.

Gomes, L.O. & Aquino, L.M.L. (2019) Los niños y la infancia en la interfaz de la socialización. Cuestiones para la educación infantil. Revista científica Eccos São Paulo, 50. https://doi.org/10.5585/eccos.n50.14092

La Taille, Y., De Oliveira, M. K., & Dantas, H. (1992). Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorías psicogenéticas en discusión. Editorial Summus.

Marcolino E.C., Cavalcanti, A.L., Padilha, W.W.N., Miranda, F.A.N., Clementino, F.S. (2018) Sobre el acoso escolar: prevalencia y factores asociados a la victimización y la agresión en la vida escolar cotidiana. Texto Contexto Revista de Enfermería. Universidade Federal de Santa Catarina Rio Grande do Sul.

Paviani J. (2016) Modema, M. R. (org.) Conceitos e formas de violencia. Editora Educs.

Silva, A. A. F. (2010). Utilización del dibujo como instrumento de análisis de la percepción del riesgo y el miedo en el tráfico. Universidade Federal do Rio de Janeiro

Silva, A. B. B. (2010). Mentes peligrosas en las escuelas: el bullying. Objetivo.

Sociedad Brasileña de Pediatría. (2019). Cada día se denuncian 233 casos de violencia física o psicológica contra niños y adolescentes. https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/233-casos-de-violencia-fisica-ou-psicologica-contra-criancas-e-adolescentes-sao-notificados-todos-os-dias/